As botinas de jardineira



Certa feita, uma velha e corpulenta lembrança que calçava botinas de jardineira velhas tomou em suas mãos a minha ensanguentada, e mesmo que ela mal pudesse me ver no presente, me disse que não bastaria cobrir meus ferimentos com as ataduras que eu insistia enrolar no corpo.
- Lave as tuas feridas, por mais que a chuva seja fria neste inverno da vida, e não chores pela tua desfiguração, que a vida é uma constante descamação da pele morta que cresce de dentro de ti. Tais cicatrizes moldarão a tua sapiência meu filho.
E aí ela dissipou na mesma velocidade que um devaneio se desvai mas reavivou a lembrança daquelas botinas velhas junto a soleira da porta.

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